









texto curatorial:
Querides marietes,
Tomo a liberdade de chamar vocês, artistas, por esse apelido carinhoso, já que o centro cultural Marieta é o elo que nos une, os encontros semanais que tivemos ao longo de três meses no grupo de desenvolvimento de artistas nos propiciaram essa intimidade.
Estou curiosa para ver a materialização da exposição organizada por vocês. Como o título já sugere, diálogo é a tônica do grupo e da reunião desses trabalhos. Ainda que cada um de vocês tenha tido total autonomia sobre seus processos criativos, é bom que o público saiba que todo mundo opinou no trabalho de todo mundo, e ninguém saiu ileso dessas trocas. Teremos efetivamente 10 artistas com obras no espaço, mas quero honrar e agradecer aos 15 integrantes do grupo do Marieta, todas e todos participaram dos diálogos em questão.
Imagino que o encontro das obras no espaço vá gerar uma polifonia, com momentos de harmonia e dissonância, refletindo a diversidade do próprio grupo. A memória é o fio condutor da exposição, tendo sido um um aspecto (ou quase um espectro) transversal à maioria das pesquisas apresentadas por vocês ao longo do semestre. Os trabalhos permeiam processos de elaboração do luto, das vivências de infância, do entorno familiar, das camadas simbólicas que compõem a identidade individual e coletiva, além de investigações de processos escultóricos, pictóricos, performáticos, de formas abstratas que surgem quase espontaneamente e figurações desvanecentes, levando à descoberta de outras camadas de si. Entre as obras, ecoam as trocas de ideias, afetos, acolhimento e risadas que povoaram a sala do Marieta nas noites de segunda. Seria essa exposição uma forma possível de tornar público esses diálogos?
Faço um exercício de memória recente para tentar resgatar o espírito dos nossos encontros. Ali, cada pessoa contribuía para a dinâmica coletiva, desde quem fazia uma piada quebra gelo a quem trazia lanchinho, um olhar sensível ou uma lista enorme de referências direcionadas a cada artista do grupo. Vimos e fomos cúmplices da criação de vínculos que se construíram numa convivência, no compartilhamento de fragilidades, de mais dúvidas do que certezas, de inseguranças, mas também de potência criativa. As soluções plásticas e poéticas trazidas por cada um como respostas às suas inquietações foram motivos de inspiração e admiração mútua.
As obras aqui presentes, de alguma forma, se alimentaram das trocas coletivas. Quer tenham sido feitas depois dos encontros a partir de novas perspectivas e sugestões, ou feitas antes, tendo sido ressignificadas ao serem apresentadas ao grupo, ganhando outras camadas de leitura. Aprende-se não apenas quando se fala de sua criação autoral, mas também dos comentários, percepções e críticas direcionadas aos trabalhos de outrem. São retroalimentações múltiplas. Talvez isso não seja tão perceptível à primeira vista na exposição, mas fica evidente quando vemos o vínculo entre vocês, numa troca de olhares que denota cumplicidade.
Gosto de ver como as diversidades de trajetórias, poéticas, linguagens e momentos de carreira de cada um não foram impeditivos para a construção de conversas horizontais, de vínculos e, agora, de uma exposição. A opinião de uma pessoa nunca valeu mais do que da outra. Ao meu ver, essa multiplicidade e, por vezes, divergências, são uma das riquezas desse grupo, e é visível no conjunto aqui apresentado.
Não tive a chance de contar: depois do nosso último encontro em dezembro tive um sonho com vocês. Nele, enquanto cada pessoa estava lidando com seus desafios individuais, da coletividade surgia um fortalecimento. Não lembro de detalhes, mas a mensagem era bem clara. Talvez falar na força do coletivo seja muito clichê, mas aprendi com vocês a não ter medo de ser brega. Numa sociedade com tanta incitação ao individualismo e à solidão, falar o óbvio não é banal. Esta exposição é uma concretização daquilo que podemos realizar quando nos juntamos.
Abraços,
Marina Frúgoli
Artistas
Ale Marchesini
Alissa Cica
Aline Aiba
Anna Maeda
Batata Rodriquez
Gio Carvalho
Jesus José
Karina syllos
Lucas Rubly
Natan Ferreira
fotos por Jorge Sato