Na constituição da forma da cidade, atuam simultaneamente processos construtivos e destrutivos, controle e acaso. Ao propor o diálogo entre as investigações poéticas de Aline Moreno e Marc do Nascimento, é possível ver em ambos uma forte presença da materialidade. Diversas dimensões da experiência se condensam nas obras. Por um lado, há a memória corporal dos artistas que caminham na cidade e coletam chapas metálicas (que um dia foram parte de letreiros e outdoors) e pedras para comporem seus trabalhos. O que vem da cidade se confunde com aquilo que foi produzido dentro do ateliê. Por outro lado, as obras proporcionam uma experiência estética no espaço expositivo, se oferecendo como uma possibilidade não apenas visual, mas também sensorial: mesmo sem tocá-las é possível sentir seu peso, temperatura e textura. Ao carregarem elementos familiares e recorrentes na vida urbana, evocam memórias cotidianas da cidade, nesta em que quase não se percebe a diferença entre construção e ruína. Os materiais encontram seu próprio campo expressivo nos mais diversos desgastes. Frente às vontades próprias da matéria, as certezas da razão e do progresso se mostram infundadas.
Exposição contemplada pelo PROAC 39/2021
Curadoria: Marina Frúgoli
Artistas: Aline Moreno e Marc do Nascimento
Produção: Liria Cultural